O G1 publicou uma entrevista muito interessante com o escritor Matthew Quick, autor
de O Lado Bom da Vida e do recente Perdão, Leonard Peacock. Confira
as perguntas e respostas, se quiser ler a matéria na íntegra clique aqui.
G1 – Você já disse que ‘toda escola tem um Leonard
Peacock’. Na sua turma, era você quem fazia esse papel?
Matthew Quick – Eu nunca levaria uma arma para a escola. Nunca fui violento. Mas, em segredo, eu estava lidando com depressão e ansiedade quando era adolescente. Houve momentos nos quais eu sentia que não tinha lugar para mim no mundo. Muitas vezes, me sentia uma aberração ou um pária, embora eu fosse realmente bom em me integrar. Minha adolescência foi muito confusa e com bastante carga emocional.
G1 – Uma das mensagens do
professor Herr Silverman em ‘Perdão, Leonard Peacock’ é: ‘Ser diferente é bom.
Mas ser diferente é difícil’. Concorda com ele?
Matthew Quick – Muito.
As pessoas que têm uma visão única do mundo nos dão arte, música e novas
ideias. Mas elas pagam um preço por serem diferentes. Ernest Hemingway, Kurt
Cobain, Sylvia Plath, Martin Luther King Jr., Hunter Thompson e vários outros
são meus heróis, e todos eles pagaram um preço alto porque eram diferentes.
G1 – O livro pode ajudar leitores
adolescentes que têm de enfrentar problemas típicos da idade?
Matthew Quick – Eu,
sinceramente, espero que sim.
G1 – Você, quando era
adolescente, tinha um personagem de ficção que lhe servia de modelo?
Matthew Quick – Fui
muito influenciado por Billy Pilgrim, o protagonista de “Matadouro 5”, escrito
por Kurt Vonnegut. Eu nunca levaria uma arma para a escola. Nunca fui violento.
Mas, em segredo, eu estava lidando com depressão e ansiedade quando era
adolescente."
G1 – Se em ‘Perdão, Leonard
Peacock’ seu interesse não era explorar a violência associada às armas de fogo,
qual era, então, o ‘objetivo’?
Matthew Quick – Eu
sou um escritor guiado pela voz [narrativa]. Ouço uma voz na minha cabeça e
deixo que ela fale. A voz de Leonard veio até mim já completamente definida, e
eu a registrei com obediência. Se você fizer uma avaliação psicanalítica, vai
dizer que todas essas vozes borbulham de meu subconsciente, e eu não
discordaria disso. Meu subconsciente provavelmente estava expondo muitas coisas
enquanto eu escrevia este livro.
Acima de tudo, eu estava
explorando a intensa solidão que alguém pode sentir quando está cercado por
outras pessoas. Também estava explorando muitas questões não resolvidas que
haviam sido deixadas para trás durante meus tempos de professor.
G1 – Em uma entrevista, você falou que ‘em toda
escola há professores heróis ajudando anonimamente adolescentes com problemas’.
Você tentava ser esse tipo de professor?
Matthew Quick – Com certeza. Meus antigos
alunos lhe diriam que Herr Silverman e eu temos muito em comum.
G1 – É verdade que já estão
trabalhando na adaptação de ‘Perdão, Leonard Peacock’ para o cinema?
Matthew Quick – Sim.
A Weinsten Company adquiriu os direitos do livro. James Ponsoldt está
trabalhando no roteiro neste momento.
G1 – Quem você gostaria que estivesse
no elenco?
Matthew Quick – Eu
acho Dane DeHaan [o Harry Osborn de ‘O espetacular Homem-Aranha 2’] seria um
Leonard fantástico. [Gostari de ver] Christoph Waltz como Herr Silverman e
Philip Syemor Hoffman como Walt.
G1 – Como foi continuar escrevendo
depois que ‘O lado bom da vida’ fez sucesso?
Sentiu-se pressionado para fazer
um novo best-seller?
Matthew Quick – Apenas
tento continuar sendo eu mesmo – e continuar contando histórias que apenas eu
mesmo posso contar. A escrita é o lugar aonde vou para escapar de toda a
pressão, hype e tudo mais. Sempre digo [para mim mesmo]: “A escrita vai lhe
salvar”. E não a publicação [do livro]. É a escrita. E, assim, prossigo
encarando a página e fazendo aquilo que tenho de fazer.
Encontrei Bradley algumas vezes. Ele foi a primeira
pessoa a se apresentar para mim quando visitei o set de filmagens. Bradley foi
muito gentil e sempre mencionava meu nome em entrevistas, gostei muito
disso."
G1 – Alguém já explicou a você o
significado do título em português de ‘O lado bom da vida’? Ele soa otimista.
Matthew Quick – Pelo fato de, na maioria das línguas, não haver uma palavra equivalente a ‘playbook’, o título fica difícil de traduzir. Um ‘playbook’ se refere a futebol americano. É um livro cheio de jogadas que um time pode executar. Além disso, um ‘silver lining’ se refere ao esboço de luz muito brilhante do sol surgindo por trás de uma nuvem, e é uma metáfora para encontrar o lado bom em uma situação ruim. Esta é uma expressão muito típica da língua inglesa, e diversas vezes não pode ser traduzida diretamente. Acho que Pat Peoples [protagonista da obra] gostaria muito do título brasileiro do livro, porque ele está sempre tentando encontrar o lado bom da vida.
G1 – Qual a sensação de ter um
filme baseado em ‘O lado bom da vida’?
Matthew Quick – Surreal. Muito estranho e, ainda assim, bonito. Excitante. Gostei bastante da adaptação do David O. Russell. Mas fico com o livro. O romance é minha visão. O filme dele fez muitas pessoas lerem meu trabalho e falar honestamente sobre problemas de saúde mental. Sou muito grato por ambas as coisas terem acontecido.
G1 – Você chegou a se encontrar Bradley Cooper e Jennifer
Lawrence?
Matthew Quick – Encontrei Bradley algumas vezes. Ele foi a primeira pessoa a se apresentar para mim quando visitei o set de filmagens. Bradley foi muito gentil e sempre mencionava meu nome em entrevistas, gostei muito disso. Encontrei quase todo mundo que estava envolvido com o filme, mas nunca conversei com Jennifer Lawrence.
G1 – Como foi lidar com o sucesso
decorrente do Oscar?
Matthew Quick – Foi um pouco opressivo, em princípio. Sou muito grato por toda a atenção e pelos novos leitores. Eu sempre acreditei na história, mas tive de me beliscar quando fui para o Oscar. Foi, definitivamente, um grande momento.
G1 – Você se incomoda quando
perguntam se, em seus livros, há elementos da sua vida pessoal?
Matthew Quick – Eu nunca me incomodo quando as pessoas me perguntam sobre meu trabalho, embora esta seja uma pergunta difícil de se responder diretamente. Escritores de ficção fazem mentiras parecerem mais verdadeiras do que a realidade. Meus livros não são literalmente sobre minha vida, mas metaforicamente têm muita relação com coisas com as quais me importo ao máximo. Meus amigos e minha família diriam que eu estou em cada página dos meus livros. Quero crer que queiram dizer isto: meus livros são uma representação autêntica de quem eu sou, ainda que metaforicamente.
G1 – Algum episódio, em
particular, inspirou você a escrever ‘O lado bom da vida’?
Matthew Quick – Fazia quase três anos que eu estava escrevendo sem ganhar nada por isso, e estava começando a achar que nunca publicaria. Um dia, saí para uma corrida. Era uma tarde fria de inverno. Muito cinza e sombria. Na metade do percurso, olhei para cima e havia uma nuvem ‘desenhada em seu contorno’ pela luz do sol, que estava escondido atrás dela. Era tão lindo.
Eu pensei: e se isto for um
presságio? E se ver esta beleza significa que vou reproduzi-la como escritor de
ficção? Imediatamente, comecei a censurar a mim mesmo por causa daquele
pensamento mágico. Mas então eu pensei: e se eu me permitisse acreditar que foi
um sinal? E se essa crença me desse esperança suficiente para continuar
escrevendo? Em seguida, pensei: e se eu tivesse um personagem que acreditasse
que ver nuvens delineadas pelo sol significava que a vida dele estaria ok? E se
meu personagem usasse esse pensamento delirante como motivação para superar
momentos difíceis? Quando terminei minha corrida, comecei a escrever
imediatamente.
G1 – Por que escrever sobre uma
doença mental? Fez algum tipo de pesquisa, conversou com pessoas com transtorno
bipolar severo?
Matthew Quick – Não estou certo de que alguma vez tenha decidido escrever sobre doença mental. Mas meus personagens acabam tendo vários problemas de saúde mental. Acredito que romancistas escrevem sobre as coisas que mais lhes importam. Trabalhei numa unidade de internação neurológica, primeiramente com pessoas que tinham sofrido lesões cerebrais traumáticas. Também trabalhei com adolescentes que tinham sido diagnosticados com autismo severo. Aconselhei adolescentes problemáticos quando eu dava aulas. Muitos estavam sofrendo de depressão. E também conheço, intimamente, os altos e baixos da vida. Eu enfrentei depressão e ansiedade por muitos anos.
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