Quer ler algum livro
nacional, mas não sabe qual? Quer fugir de clássicos e encontrar uma nova
geração de escritores que está chegando com tudo? Caso as respostas sejam sim, essas
indicações são especialmente para você.
Tive o prazer de
entrevistar três novos autores, próximos do círculo literário no qual convivo
(amigos aproximados pela internet, em outras palavras). Cada qual com seus
romances de estreia, embora de diferentes maneiras, eles trazem força aos
gêneros de suas obras. Além de apenas indicar os livros, fiz algumas perguntas
para os três, não apenas sobre suas obras, mas também sobre seus processos criativos
e outros pontos interessantes (principalmente se você também quer trilhar o
caminho da escrita).
Sem mais delongas, apresento-lhes:
Daniel
Peregrino, 26 anos, autor de Minha Namorada é Headbanger
Carioca, leitor assíduo
e twitteiro de plantão. Define-se
como um homem que parará de respirar antes de parar de escrever. Quando não
está criando histórias, desenha e joga. Às vezes, faz tudo ao mesmo tempo. Minha
Namorada é Headbanger é sua primeira publicação.
Dêner B. Lopes,
19 anos, autor de Cidades Mortas
Nascido no inverno de
1995, em Minas Gerais, vive atualmente em Pindamonhangaba, no estado de São
Paulo. Seu gosto pela literatura se iniciou em 2010, e de lá para apenas aumentou.
Integrou a antologia, Utopia – Contos
Fantásticos (Andross Editora, 2014)
e está confirmado nas inéditas, Sombras
do Tempo (Sollo Editorial) e King Edgar Hotel (Andross Editora). Cidades
Mortas é seu primeiro romance solo.
Laísa
Couto, 27 anos, autora de Lagoena – O Portal dos Desejos
É uma poesia quebrada.
De dia sopra histórias ao vento. De noite explora nebulosas e colhe lágrimas de
deuses esquecidos. Quando dorme, apenas sonha. Lagoena –
O Portal dos Desejos é seu primeiro romance. Autora também do conto em
ebook, O Inverno das Rosas (Editora Draco) Mantém o blog, lagoenaoficial.blogspot.com.br
Interrogatório
Quando
decidiram escrever seus romances e como os livros nasceram?
Daniel:
A
data exata eu não vou lembrar. Uma noite minha chefe me chamou para jantar na
casa dela. Depois de comermos (estava muito, muito bom – tina carne e pasta de
abobóra), ela atacou a garrafa de vinho do pai e me contou uma história sobre
um ex-namorado que, chocado com uma atitude dela, disse a frase: “caraca, minha
namorada é headbanger mesmo”. Eu ri tanto e por tanto tempo que prometi que
esse seria o título do meu livro.
Dêner:
Agosto
de 2013. Madrugada entediante. Estava passando um filme de robôs na TV chamado
"Substitutos". Do nada, a ideia de escrever "Cidades-Mortas"
surgiu, e na mesma hora comecei a escrever, sem nem saber no que daria.
Laísa:
O
que hoje é Lagoena nasceu de sem pretensão, em 2005. Naquela época eu ainda
estava no ensino médio e vi uma reportagem numa revista sobre livros de
fantasia, As Crônicas de Nárnia e Eragon, sobre adaptações dessas histórias
para cinema, como aconteceu com Harry
Potter e O Senhor dos Anéis.
Aquilo me chamou a atenção, não pelas adaptações cinematográficas (eu nunca
havia assistido nenhuma delas), mas pelo apelo e conquista que estas histórias
ganharam. Então, como eu não tinha dinheiro para comprar livros e na cidade
onde eu morava não havia livraria,
aluguei alguns filmes de fantasia baseado em livros e comecei a pensar
na minha história.
Quais
são suas principais influências literárias?
Daniel:
Eu
leio de tudo, tudo mesmo. Quando estou com uma ideia na cabeça, tento ler
coisas de estilo parecido, para “entrar no clima”. Estou sempre lendo Stephen King, independente da ocasião,
mas dessa vez eu devoreis dois livros dele, por serem em primeira pessoa: Duma Key e Saco de Ossos. Também me joguei nos livros de John Green, com a mesma lógica. Mas acho que tento ir atrás do King mesmo, acima de todos os outros
estilos.
Dêner:
J.K.
Rowling é a maior delas. Depois, Stephen King, Rick Riordan e Suzanne Collins.
Laísa:
Um
dos primeiros filmes que assisti foi O
Senhor dos Anéis e logo fiquei encantada, acho que vi a trilogia mais de
100 vezes. Depois li O Hobbit e O Senhor dos Anéis, me deliciei com as descrições de Tolkien e de como ele conseguia tirar
poesia delas. Gosto muito do ensaio dele "Sobre histórias de fadas". Tolkien me ensinou a mostrar um mundo
com sentimento. Antes dos livros dele eu li As
Crônicas de Nárnia de C.S.Lewis,
também meu grande mestre, aprendi como fazer a passagem do mundo real para o
fantástico de forma delicada e verdadeira,
depois de Nárnia eu descobri o que era Lagoena. Acho que essas são as
influências mais fortes para mim.
Para
vocês, qual foi a maior dificuldade encontrada durante o processo de criação?
Daniel:
É
difícil, para mim, não ir direto ao ponto nas minhas histórias. Quando eu
reescrevo, tento aumentar as descrições e criar mais “olhadas pela janela do
ônibus”, para aumentar o prazer da viagem. O difícil é que eu sempre acho que
estou criando momentos inúteis e enchendo linguiça. É a parte mais complicada,
sempre. Mais motivos pra admirar o King, que
inclui importância e movimenta a trama até nesses “momentos de contemplação”.
Dêner:
A
maior dificuldade foi o bloqueio criativo, embora tenha escrito o livro em
exatos 90 dias. Depois disso, a construção da trama. Nunca sei exatamente o que
vai acontecer, mas como todos meus livros, fiquei bem satisfeito.
Laísa:
Acho
que a maior dificuldade é esperar, ter paciência. As histórias nascem, mas
precisam de tempo para amadurecer, isso pode levar meses ou anos. Lagoena - O Portal dos Desejos levou 5
anos para ser escrito, mais 4 para se publicado, e é o primeiro de uma
trilogia.
Poderiam
descrever um pouco de seus processos criativos?
Daniel:
Tento
criar disciplina, porque de outra forma, eu sei que vou enrolar muito. A
madrugada sempre foi meu horário favorito para escrever, mas tenho visto que
escrever ao amanhecer, logo depois de acordar, também é muito gostoso. As
ideias costumam vir do nada, normalmente um exagero de uma situação ou uma
junção de vários pensamentos desconexos. Depois que decido o que vou escrever,
me concentro na última cena, o último parágrafo do texto. Eu não o escrevo, mas
decido como será, mesmo que mude depois. Daí anoto alguns pontos chaves da
trama, construo os personagens e, enfim, começo a escrever. Vou usando esses
pontos chaves como checkpoints pra me
guiar, mas uma vez começada, a história e seus personagens parece criar vida
própria: eu mesmo tenho pouco controle sobre o que vai acontecendo e sigo
escrevendo só pra ver como a história continua. É muito divertido escrever
assim.
Quanto ao lugar onde
escrevo e músicas, eu tomo cuidado (rs). Porque eu SEMPRE vou lembrar quando
reler o texto, seja quando escrevi sentado no chão, porque não tinha comprado
nem sofá pro apartamento ainda, ou a música (geralmente ruim) que o vizinho
estava ouvindo.
Dêner:
Não
tenho horários estabelecidos para escrever. Gosto de escrever quando sinto
vontade, mesmo tendo alguns prazos a cumprir. Adoro ouvir as músicas da rádio
na madrugada, quando escrevo, mas não é sempre.
Laísa:
Meu
processo criativo é caótico, eu não sigo regras, não sou disciplinada (não
sigam meu exemplo). Eu não sei se ganharia mais escrevendo todo dia, me
obrigando, se eu me acostumaria, acredito que não. Quando estou trabalhando num
texto longo sempre paro para respirar, fico esgotada e não rende, não forço a
barra, vou até onde dá, depois retorno. Gosto de escrever de madrugada por ter
mais silêncio e por ser menos quente. Ouço música sempre, a playlist varia com o tema, já ouvi Sigur Rós, Imogen Heap, Agnes Obel, Birdy,
Devotchka entre outros.
Para
finalizar, deixo essas últimas perguntas: Alguma dica para quem pensa em
começar escrever agora? E para quem já começou a trilhar esse caminho?
Daniel:
Leia
muito. De tudo. Se atraiu sua atenção, leia. Mesmo que tenha atraído só um
pouco. Diabos, leia mesmo que tenha atraído a atenção de alguém que você
conhece. Não precisa ler e analisar, ou pensar
o que você faria de diferente, só leia. Muito.
Eu leio várias dicas de
escritores publicados, seguindo-as ou não. Essa estrutura de criar uma situação
inicial, deixando a história livre para fazer o que quiser, eu tirei da
palestra de um autor sul-coreano. Acho que a maior dica possível é manter a
cabeça sempre aberta. Sempre há espaço para melhorar. E leia. Muito.
Dêner:
Não
vou dizer "ler", porque isso é a coisa mais óbvia para todos que
sonham se tornar um escritor. Uma dica é estudar e pesquisar tudo sobre o que
se trata no texto. Cada pequena coisa. Além de deixar o texto mais crível, o
faz ganhar pontos (na medida de possibilidade de gosto, claro).
Laísa:
Acho
que já dei a dica: esperar, paciência. A história precisa de tempo e dedicação,
imagine-se um escultor que pega uma pedra bruta e já tem a forma exata
desenhada na imaginação, lá dentro da pedra está ela, mas você vai precisar de tempo
para tirá-la de lá. Pode acontecer de
você ter escolhido a pedra errada, que não serve para o quê você quer e ter de
começar de novo, pode faltar ferramentas que atrasem seu processo, você vai
cansar, vai querer desistir, vai duvidar, mas no final, parar e continuar no outro dia pode ser a melhor
solução.
Gostaram? Não sei
vocês, mas eu adorei conhecer um pouco mais desses autores. Daniel escreveu um
romance jovem adulto, Dener representa a ficção-científica e Laísa, a fantasia. E é interessante notar como a internet está fazendo a diferença e facilitando que novas histórias cheguem até nós.
Vocês podem fazer contato com os escritores pelas seguintes redes sociais:
Vocês podem fazer contato com os escritores pelas seguintes redes sociais:
Daniel Peregrino: Twitter
Dener B. Lopes:
Facebook
Minha
Namorada é Headbanger está à venda no formato ebook na Amazon.com.
Cidades
Mortas pode ser adquirido, em versão impressa, pelo site da
Chiado Editora.
Lagoena
– O Portal dos Desejos está disponível em ebook e impresso
no site da Editora Draco.
Apoiem a literatura
nacional para que possamos sempre ter mais obras de qualidade chegando até nós. That’s
all folks!
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