Ir ao cinema e
surpreender-se com a história de um filme é muito prazeroso. A obra sequer
precisa ser memorável ou a coisa mais empolgante da década, basta trabalhar bem
o que tem em mãos e entregar ao espectador algum tempo de imersão na história
contada. Boneco do Mal (The Boy), em síntese, é exatamente um
desses filmes.
Dirigido por William Brent Bell (Filha do Mal e Stay Alive)
e estrelado por Lauren Cohan (a Megan
de The Walking Dead), Boneco do Mal, em um primeiro olhar,
pode parecer claramente uma simples cópia de Annabelle. Afinal, é um filme de terror com um boneco. E em até
certo ponto, a trama trabalha para que essa imagem seja mantida. O que se
mostra uma jogada inteligente, pois assim o efeito de seu grande plotwist é potencializado.
Se o roteiro por um
lado não trabalha bem os coadjuvantes, e apenas um pouco melhor sua
protagonista, ele é competente no uso dos jumpscares,
principalmente por não construir o clima somente com eles. Ao contrário da
irmãzinha citada lá em cima — onde o filme é quase todo apenas uma sequência
sem fim de sustos —, temos uma história competente. O maior deslize, no
entanto, é a história correr em seu início para conseguir êxito no desfecho. O
andamento ainda agrada, e mesmo com alguns clichês do gênero, talvez
impossíveis de se fugir, o resultado é bom.
Fiquei com a sensação
de que William Brent, um diretor já
com certa experiência dentro do gênero, não conseguiu extrair o máximo do roteiro,
escrito pelo estreante, Stacey Menear.
A história segura o
segredo com habilidade e trabalha o suspense de forma imersiva, carregando o
espectador pouco a pouco, e sabendo a hora de acelerar e a hora de deixar tomar
fôlego sem quebrar o ritmo.
O plotwist traz outro subgênero adorado dentre os fãs do terror e o
mescla ao que vinha sendo construído até então, ponto alto do filme. O final é
satisfatório, porém o ritmo cai justamente quando deveria se elevar e deixa a
impressão de não ter sido a melhor escolha para terminar a trama. A inserção de
certo personagem é responsável por unir as pontas soltas e desencadear o
clímax, mas também quebra um pouco do ritmo.
A imobilidade do boneco
Brahms é mais perturbadora que todas
as idas e vindas que ele poderia fazer para assustar ou impressionar, é no
silêncio do garoto de porcelana que reside a tensão do filme. Vários closes que incitam o espectador a se
preparar para o susto e esperar um pulo, uma piscada, um menear de cabeça, que
não acontece.
Lauren
Cohan, por sua vez, consegue segurar o papel sem deixar a
peteca cair. Esforçada quando exigida, ainda que o resultado entregue seja
inferior ao que poderia ter sido. Mediana também é a trilha sonora composta por
Bear McCreary, preenche o filme
quando necessário, sem evocar aquele tremor ou elevar os efeitos do filme.
Boneco
do Mal, um clichê sem maiores qualidades a primeira vista,
revela-se intrigante mesmo com suas falhas. O roteiro é a melhor qualidade e
merece destaque, tornando fácil ignorar seus deslizes ao entregar um plotwist que livra a obra de ser apenas
mais um filme de terror. Não é mais do mesmo, ele busca sair da mesmice, e pode
não entrar nas listas de melhores do gênero e coisas do tipo, mas merece uma
chance por ousar.
Sinopse:
Greta,
uma jovem mulher norte-americana, busca fugir de seu passado conturbado, e
acaba aceitando um emprego em uma pequena aldeia na Inglaterra como babá para o
filho de oito anos de um casal rico, enquanto eles tiram um tempo de férias.
Greta chega na remota mansão para descobrir que as coisas não estão lá muito
boas. Os surpreendentemente idosos Sr. e Sra. Heelshire possuem uma lista de
regras estritas para ela seguir na hora de cuidar de seu filho, Brahms; e eles
misteriosamente avisam Greta que não seguir as regras de forma precisa pode
resultar em algo terrível. Mas o mais perturbador de tudo é que Brahms não é um
verdadeiro menino de simples oito anos de idade. Ele é um boneco de porcelana
em tamanho natural, a quem os pais amorosos cuidam e amam profundamente, assim
como um menino de verdade.
Direção: William Brent Bell
Duração: 1h 38m
Roteiro: Stacey Menear
Elenco: Lauren Cohan, Rupert Evans, Diana Hardcastle, Ben Robson, James Russell.
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