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Legado das Palavras: Na Estante - O Vilarejo, Raphael Montes

Na Estante - O Vilarejo, Raphael Montes

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Estampado, na capa de O Vilarejo, novo livro de Raphael Montes, a declaração da atriz Fernanda Torres diz: “Raphael cria uma seleção de histórias macabras digna dos melhores contos dos Irmãos Grimm, sem deixar nada a dever a Stephen King.” Obviamente, fiquei contente por ver um autor nacional comparado ao famigerado King. Ainda que não tivesse abraçado a causa, essas palavras me venderam o livro, e eu enfim pude ler algo do Montes, um autor em ascensão cujo nome já li bastante pela internet.
Ao contrário da declaração de capa, o livro deve algo para alcançar a melhor fase de Stephen King, sim. Por outro lado, bate de frente com algumas das obras do referido autor. No entanto, isso não diz nada sobre a qualidade de O Vilarejo. Comparar autores é sempre uma grande bobagem, e que acaba gerando bastante discussão — mas vende o livro (vendeu para mim).
Em relação aos contos que são apresentados, é um livro excelente. Terror, suspense, agonia, sangue e violência muito bem dosados e conduzidos pelo autor. Quando digo dosado, não quero dizer para menos. Não. As histórias despertaram em mim pura repulsa e estupefação, ante dos fatos narrados.
Baseado na teoria de Peter Binsfeld, padre e demonologista, lançada  em 1589, que cada pecado capital é interligado a um demônio, Montes encontrou aí o guião para a construção do livro. Cada uma das sete histórias apresentadas representa um demônio/pecado capital. Elas são interligadas pelo vilarejo e seus personagens, o que o torna mais que um livro de contos, dando para a obra a alcunha de fix up, caso também do King Edgar Hotel. 
No centro da história, tal vilarejo acaba isolado do restante do mundo, no vale onde é situado, após o rebento de uma guerra civil no país e a intempérie da neve. Ali os personagens passam fome e algumas outras dificuldades excruciantes, trazendo a tona aspectos brutais e monstruosos da psique humana.
Avaliando de forma geral, gostei bastante do livro. Mas também apreciei mais umas histórias do que outras. Destaco aqui a primeira e a última. O início, dado pelo prefácio (vou chegar nele), e seguido pelo conto Banquete Para Anatole, mostram o que você enfrentará nas próximas páginas. É de revirar o estômago. O último, Um Homem de Muitos Nomes¸ trouxe-me, o que até então não havia tido na leitura, aquele momento em que parei e pensei meus sinceros parabéns, Montes. Outros dois trechos que me fizeram ter esse pensamento foram o prefácio e o posfácio. Eles são as cerejas do bolo. Dão o toque de genialidade do livro.
Completando um trabalho interessante, e até mesmo com sua singularidade na literatura nacional, há também as ilustrações produzidas por Marcelo Damm. Impecáveis e perturbadoras, na exata proporção dos contos.

O Vilarejo foi lançado nesse ano de 2015, pela Suma das Letras. A mesma casa de Stephen King. Melhor que comparar se de fato as histórias de Montes devem ou não algo em relação às do King, é pode ler um trabalho bonito como esse, e sentir que o terror nacional está bem representado. É uma obra curta e de leitura rápida. Como André Vianco disse: “...é um livro para ler numa sentada só...”. Concordo. O ritmo da narrativa flui e praticamente te obriga a chegar ao recompensador final. 
Esse foi o primeiro livro de Raphael Montes lido por mim. Certamente será o que indicarei, quando me perguntarem algo sobre o autor. Não é sua estreia, mas o apresenta bem ao público. Agora, com licença, pois vou atrás dos demais livros de Raphael Montes.  
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